Esta semana foi marcada pela visita da jornalista cubana Yoani
Sánchez, famosa pelas críticas que escreve em seu blog Generación Y sobre a situação social e política de
seu país. Ela começou no Brasil uma viagem de 80 dias por dez países da
América e da Europa – o que só foi possível porque ocorreu uma reforma
migratória em Cuba, vigente desde 14 de janeiro. Antes disso, vários pedidos
seus de saída foram negados pelo governo cubano.
A visita, no entanto,
atraiu muitos protestos. Seus opositores afirmam que ela é financiada pelos
Estados Unidos para fazer campanha contra o regime cubano. Sobre isso, ela
comentou com a imprensa: “Este argumento eu conheço desde pequena, e é dado a
todos que são contra o regime”. Manifestantes chegaram a impedir a projeção do
documentário “Conexão Cuba-Honduras”, no qual Yoani é uma das entrevistadas, em
um evento em Feira de Santana (BA). Sobre os ataques, ela disse: “Eu gostaria
que houvesse uma democracia assim em meu país”.
Quem critica Yoani chama a atenção, também,
para a dimensão incomum do seu blog: lá, você pode ler os textos em 20 línguas,
fora o espanhol – nem o site das Nações Unidas tem tantas traduções. Ele também
rendeu muitos prêmios internacionais para a cubana, dados em forma de dinheiro
por diferentes jornais e organizações. Além disso, eles mencionam o fato de que
o Wikileaks publicou documentos revelando encontros e relações entre a
blogueira e o governo americano.
Por que o vestibulando deve prestar atenção à visita de Yoani Sánchez?
Primeiro, é interessante o estudante perceber o choque de opiniões que a sua vinda tem despertado, o que evidencia opiniões diferentes sobre Cuba. De um lado, uma parcela da população a está apoiando como alguém que representa a crítica à ditadura e à falta de liberdade do regime socialista. De outra, grupos de esquerda a têm condenado. Ao mesmo tempo, a própria autorização de viagem que ela recebeu também indica certa mudança de postura do governo cubano e mostra que ele está passando por um processo de abertura – e isso pode ser tanto propaganda do regime, mostrando que ele está mais aberto, como também uma forma de atrair recursos externos.
Mas, para o vestibular, mais importante do que
entender a polêmica em si é conhecer a situação e a história do país.
Independência apoiada pelos EUA
A ilha de Cuba foi colônia da Espanha por quatro séculos e teve economia baseada no sistema de plantation. Os EUA eram o principal comprador do açúcar cubano e, com interesses econômicos e estratégicos na região, entraram em guerra com os espanhóis pela independência de Cuba. A Espanha foi derrotada em 1898 e cedeu aos EUA o domínio da ilha. Os norte-americanos cederam a independência formal a Cuba em 1902, mas mantiveram controle direto sobre o país e uma base militar na baía de Guantánamo, mantida até hoje.
Revolução Cubana
Na década de 1950, Cuba tinha uma economia baseada na exportação de tabaco e açúcar e graves problemas sociais, como concentração fundiária e miséria da população rural. Só que, ao mesmo tempo, a capital, Havana, possuía grandes cassinos e festas para os americanos, que usavam Cuba como uma espécie de colônia de férias.
O país era governado por uma ditadura militar instaurada e chefiada por Fulgêncio Batista, aliado dos EUA. Esse cenário levou à formação de uma guerrilha camponesa liderada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. A revolução depôs Fulgêncio Batista em 1959. O grupo de Fidel era nacionalista e, pela dinâmica da revolução, nacionalizou as empresas estrangeiras, desapropriou as grandes fazendas de monocultura e realizou uma reforma agrária, o que provocou vários conflitos com os norte-americanos, donos de empresas e de grandes extensões de terra.
Em 1961, os EUA resolveram articular uma invasão militar do país, no fracassado desembarque na baía dos Porcos. No ano seguinte, Cuba estabeleceu aliança com a então União Soviética e aderiu ao modelo socialista. No mesmo ano, a possível instalação de mísseis soviéticos na ilha levou à grave “crise dos mísseis”.
Cuba foi então expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA), e os EUA decretaram, em 1962, um embargo econômico proibindo que empresas americanas vendessem ou comprassem produtos cubanos e incluindo regras que se estenderiam a outros países que mantêm relações com os EUA, como a proibição de qualquer comércio exterior com cubanos usando dólares.
Durante todo o restante da Guerra Fria (1945-1991), Cuba recebeu o apoio soviético e de outros países comunistas do Leste Europeu, com vantagens na venda de açúcar acima do preço de mercado e na compra de petróleo.
Porém, o fim da URSS em 1991 agravou a situação econômica imposta pelo embargo, provocando desemprego, racionamento de alimentos e itens básicos, como papel. A renda dos cidadãos cubanos caiu significantemente nesse período.
A chegada de Hugo Chávez à Presidência da Venezuela, em 1998, foi um alento para Cuba, que estreitou laços e voltou a receber forte apoio externo. Atualmente, Cuba conta com as vantagens de participar da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), iniciativa da Venezuela, que prioriza o comércio entre países latino-americanos, com pagamentos em dinheiro, mercadorias ou serviços. Pelo acordo, Cuba recebe petróleo venezuelano em condições vantajosas e paga com mercadorias e serviços médicos.
Hoje
Desde que sucedeu seu irmão Fidel Castro, e em resposta à piora na situação econômica da ilha com a crise de 2008, Raúl Castro tem realizado reformas que diminuem o controle do Estado sobre a economia, ao mesmo tempo em que procura novos investimentos e tenta se aproximar de países como Rússia e China.
Entre as medidas, autorizou a abertura de cooperativas e pequenos comércios, o direito de os agricultores venderem diretamente parte de sua produção e liberou a venda de imóveis e automóveis entre os civis. Na prática, isso pode significar o início do fim da propriedade coletiva dos meios de produção nas mãos do Estado. O governo também anunciou que fará um corte gradual dos subsídios a alimentos e eletricidade e que vai demitir cerca de 1,3 milhão de funcionários públicos até 2015.
Por sua vez, o governo de Barack Obama, apesar de ter renovado o embargo a Cuba, está flexibilizando algumas sanções. Por exemplo, em julho de 2012, uma empresa de Miami, na Flórida, recebeu a permissão de iniciar uma linha regular marítima para remessa de ajuda humanitária ao país. Viagens de norte-americanos à ilha também passaram a ser permitidas.
Os EUA não aceitam a presença de um regime comunista em que terras e empresas foram expropriadas e tornadas propriedade estatal a pouco mais de 150 quilômetros de seu litoral. Assim, a ação diplomática norte-americana visa a mudar economicamente o regime, ao mesmo tempo em que pressiona politicamente para terminar com a ditadura de partido único (Partido Comunista Cubano).
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